Pesquisa revela maior mortalidade de macaco-prego e expressivo número de animais vivos na RPPN Sesc Pantanal após incêndios

Pesquisa sobre a fauna Crédito Jeferson Prado

Os primeiros resultados da pesquisa sobre os impactos dos incêndios na fauna da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN Sesc Pantanal) foram divulgados nesta segunda-feira (28/6) e revelaram que o macaco-prego está entre os animais com maior mortalidade na área após os incêndios de 2020. Os pesquisadores do Grupo de Estudos em Vida Silvestre (GEVS) também constataram a expressiva presença de animais vivos após a passagem do fogo, resultado da atuação da brigada existente há mais de 20 anos.

A pesquisa percorreu 400 km nos 108 mil hectares da maior reserva particular do Brasil para contar as carcaças em 423 parcelas de 1 hectare cada. Ao todo, foram encontrados 550 carcaças dentro das parcelas e 651 aos arredores e no trajeto. Dessas, a maior parte é de mamíferos, seguido de répteis e aves. O maior número detectado em uma parcela foi de 39 carcaças.

Os primeiros dados trazem a estimativa de três espécies de animais mortos  – jacaré, macaco-prego e queixada – e considerou como determinante para isso a distância de locais com água, devido à seca, e a severidade do fogo. Segundo a pesquisa, na área da reserva, equivalente à cidade do Rio de Janeiro, a estimativa é que tenha morrido 3.616 jacarés, 6.743 queixadas e 9.577 macacos-prego.

De acordo com o biólogo, doutorando em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Ismael Brack, animais de médio e grande porte parecem ter sido mais afetados nos tanques e em áreas mais secas e florestais. “A severidade dos incêndios influenciou as fatalidades e se o combate não tivesse sido feito seria mais severo e as mortes também”, avalia ele.

Segundo o biólogo, o objetivo da pesquisa é saber quantos animais, de médio e grande porte, morreram na RPPN em decorrência dos incêndios, direta ou indiretamente. “O resultado final da pesquisa, que deve sair ainda esse ano, contribuirá para a tomada de decisões nos próximos combates, considerando os locais mais sensíveis, com estratégias de defesa para eles”, destaca Brack.

Pesquisador do Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenador do GEVS, Luiz Flamarion, destaca que muitos animais encontrados mortos não estavam queimados, ou seja, morreram de maneira indireta, pelo fator respiratório e também devido à falta de recursos. “Por outro lado, com 33 pontos monitorados com câmeras fotográficas automáticas em toda a reserva, que já fizeram mais de 19 mil registros, vemos que o Pantanal ainda está vivo e há uma enormidade de vida circulando e se recuperando”, destaca.

O diretor-geral do Departamento Nacional do Sesc, Carlos Artexes, destacou o esforço dos brigadistas no momento dramático vivido em 2020 e a importância das parcerias na pesquisa. “O Sesc tem o compromisso com a questão socioambiental e o que aconteceu no ano passado é um alerta para o futuro. A regeneração do Pantanal depende da natureza, de políticas públicas e união de todos que defendem a natureza e produzem conhecimento”, completa.

Além do Sesc Pantanal e o GEVS, a pesquisa é realizada por meio do apoio com o Instituto Ipê, Ampara Silvestre, ONG Mata Ciliar, SOS Pantanal, ONG É o Bicho, Instituto Curicaca, Fiocruz, Museu Nacional/UFRJ, UFGRS e Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).

Velocidade do fogo 

A velocidade do fogo dentro da reserva, conforme os dados de satélite rastreados pelos pesquisadores, evidencia, ainda, que o fogo foi mais lento dentro da RPPN Sesc Pantanal, ressalta José Luis Cordeiro, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). “O fogo não veio de dentro da RPPN, mas de fora, conforme as imagens de satélite demonstram. A velocidade do fogo dentro da reserva consumia dois mil hectares por dia e, na área externa, 18 mil, resultado da eficiência do combate ao fogo que permitiu o retardamento do avanço do fogo e sobrevivência dos animais”, diz ele.

O guarda-parque Vilson Taques participou da live e compartilhou a experiência vivida em 2020 no combate ao fogo e atendimento à pesquisa. “No combate, apesar do esforço, parecia que a gente não estava conseguindo mostrar o que fizemos, mas, quando os pesquisadores disseram que conseguimos minimizar muitas mortes aí voltou nossa alegria. Alegria por saber que salvamos muitas espécies e ganhamos mais força para fazer a ação emergencial”, conta.

Ação emergencial 

A bióloga Gabriela Schuck, mestranda em ecologia pela UFRGS, falou sobre as ações emergenciais que tiveram início logo após o fim dos combates, em setembro de 2020, que ofereceu durante cinco meses 35 toneladas de alimento e 178 pontos de água.

“A situação era bem crítica, pela escala de incêndio, a seca, a escassez de recursos. Tentamos interferir o mínimo possível e diminuímos a oferta ao longo do tempo. Ainda há um longo caminho para a reestruturação, mas ver sinais de vida dá motivação para o trabalho”.

Para o coordenador do grupo, o apoio emergencial foi uma medida de caráter humanitário. “A ação foi importante e com profundo significado moral, já que os humanos foram os principais responsáveis pelo impacto ocorrido”, sinaliza Flamarion.

Conclusão e etapas futuras 

De acordo com Flamarion, mesmo com 93% da RPPN atingida pelas frentes de fogo, e os elevados números de óbitos registrados e estimados, a fauna ainda está presente de forma expressiva, ocorrendo em diferentes regiões da reserva. “Diante do cenário inédito, se faz necessário o acompanhamento a médio e longo prazo, tanto da evolução da paisagem quanto da recuperação da fauna e da flora”, explica.

Entre as ações previstas nas etapas futuras está o monitoramento em ampla escala, avaliação do uso do espaço por grandes predadores (onças-pintadas e pardas) e espectro de presas, estimativa do tamanho das populações de grandes mamíferos, com destaque para o cervo-do-pantanal, na condição pós-incêndio e estimativa populacional e do uso do espaço pelo jacaré-do-pantanal, na condição pós-incêndio.

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