Pesquisa inédita para implantação do Manejo Integrado do Fogo no Pantanal conclui 2ª etapa com queima controlada

Queima controlada - MIF Pantanal Crédito Sesc Pantanal (4)

RPPN Sesc Pantanal é a única área do experimento em Mato Grosso, que será realizado também em duas áreas de Mato Grosso do Sul 

A pesquisa para implantação do Manejo Integrado do Fogo (MIF) no Pantanal concluiu neste mês a 2ª etapa em Mato Grosso com rodas de conversa, queima controlada e coleta de amostras na Reserva Particular do Patrimônio Natural, a RPPN Sesc Pantanal, localizada em Barão de Melgaço (MT). A maior reserva particular do país é a única área de experimento no Estado, que será realizado também em Corumbá e na Terra Indígena Kadiwéu, ambas em Mato Grosso do Sul, com o objetivo de elaborar protocolos para implantação do MIF como prevenção a grandes incêndios no bioma.

O projeto piloto é inédito no Pantanal, realizado por meio da parceria entre 17 instituições. As três áreas foram escolhidas considerando a prevalência da flora nativa e os diferentes níveis de inundação: Corumbá (MS) onde alaga muito, RPPN Sesc Pantanal (MT) com inundação intermediária e Terra Indígena Kadiwéu (MS) que não alaga. O uso do fogo como aliado a incêndios florestais já é utilizado em todos os outros biomas no Brasil e em unidades de conservação dos Estados Unidos, África e Austrália.

Nesta 2ª fase, com duração de cinco dias, foi aplicada uma das técnicas do MIF, a queima controlada, em três áreas, que possuem quatro parcelas de um hectare cada. A partir delas, será feita a análise do comportamento do fogo em três diferentes momentos: agora no mês de julho, período que antecede a seca, em setembro (período da seca) e em outubro (fim da seca). Uma das áreas não será queimada, para servir de comparativo.

De acordo com o biólogo e analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), e coordenador geral do projeto, Christian Berlinck, a queima, chamada de precoce, ocorreu dentro do esperado nas três áreas. “A queima ocorreu em mosaico, pois a vegetação está muito verde, a umidade relativamente alta, as temperaturas não estão tão elevadas e os ventos estão bastante amenos. Isso faz um desenho na paisagem e provoca efeitos diferentes em cada parcela, como era esperado”, explica.

A gerente de Pesquisa e Meio Ambiente do Polo Socioambiental Sesc Pantanal, Cristina Cuiabália, ressalta que o experimento ocorre em 12 hectares, ou seja, uma pequena parcela da extensão da RPPN, que tem 108 mil hectares. “Foram feitos aceiros no entorno das parcelas e a estratégia da queima teve opção de fuga para os animais que estivessem no local. Tudo feito com máxima segurança. A pesquisa e a técnica são fundamentais para construir o conhecimento. Tudo o que sair daqui vai para além da RPPN e nosso objetivo é que alcance políticas públicas que protejam o Pantanal e promovam uma organização territorial mais sustentável”.

Quatro frentes de pesquisa 

 

O projeto é uma grande pesquisa que envolve quatro frentes de trabalho: fauna, vegetação, solo e o DNA ambiental. A finalidade é avaliar o efeito da queima controlada nas áreas. Para isso, os pesquisadores foram a campo para coletar materiais em dois momentos: antes e depois da queima das parcelas.

“Fazemos o levantamento dos dados de fauna, vegetação, solo e DNA ambiental para avaliação desses dados preliminares, que depois serão comparados com os das queimas de setembro e outubro. Depois da última queima, a pesquisa continua com a análise de dados e levantamentos em campo. A perspectiva é que em um ano já tenhamos os primeiros resultados que orientem a implantação do MIF no Pantanal e processos de autorização do uso do fogo com fins agropecuários”, explica.

Conhecimento coletivo 

De acordo com a superintendente do Polo Socioambiental Sesc Pantanal, Christiane Caetano, a principal estratégia de prevenção aos incêndios neste ano é a integração. “Por isso as rodas de conversa são tão importantes. É possível trabalhar de forma articulada e encontrar soluções que conciliem as diferentes funções de reservas, comunidades, fazendas e aldeias”, declara.

O fazendeiro e membro do Sindicato Rural de Poconé, Junior Iris, da fazenda Marca Taça, participou da roda de conversa realizada na RPPN Sesc Pantanal. “Foi muito bom nos reunirmos para esse diálogo com o objetivo de termos união em defesa do Pantanal”, destaca.

Cacique da aldeia Perigara, da etnia Bororo, Roberto Prado também esteve no encontro e destaca a importância da nova técnica. “É uma nova experiência para o Pantanal e espero que possamos pôr em prática para que não aconteça como no ano passado. A união de todos é importante e é muito bom estar por dentro dela”.

Presidente da Associação Rural de São Pedro de Joselândia, Everson de Arruda, onde também houve uma roda de conversa considera essa instrução e troca de informações muito positiva. “Esperamos que as parcerias continuem”, conclui.

O MIF 

O MIF reúne um conjunto de técnicas que trabalha com três pilares essenciais: a ecologia do fogo (os principais atributos ecológicos do fogo); a cultura do fogo (necessidades e impactos socioeconômicos) e o manejo do fogo (prevenção, supressão e uso do fogo). Com isso, busca-se compatibilizar as necessidades sociais, as tradições culturais e características ecossistêmicas para a conservação da natureza.

Entre as técnicas que compõem o MIF está a queima prescrita, realizada ao fim do período chuvoso e início do período da seca. Essa ação simula uma queima natural com a qual as áreas de savana normalmente estão habituadas, e tem como um dos objetivos eliminar a vegetação seca para melhorar as condições de controle dos incêndios na estação seca.

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