Vivemos em um mundo em constante transformação, onde a inovação não é mais uma vantagem competitiva, é uma questão de sobrevivência. E, nesse cenário, a maior ameaça ao futuro de uma empresa, carreira ou projeto pode não ser o fracasso, mas o sucesso que acomoda.
A história da Intel nos mostra isso com clareza. Muito antes de ser o cérebro dos computadores que alimentavam empresas como Microsoft, Apple e Google, a empresa enfrentou um ponto de virada silencioso, o que Andy Grove, seu lendário CEO, chamou de “Ponto de Inflexão Estratégica”. Um momento quase imperceptível, onde tudo começa a mudar.
Grove teve a coragem que poucos têm, agir antes da dor se tornar inevitável. Ele entendia que, quando algo “parece” começar a dar errado, é porque já estamos atrasados. A maioria só reage quando o desastre é evidente. Mas, quando isso acontece, quase sempre é tarde demais.
Steve Jobs sabia disso. Em 2007, encerrou o iPod no auge para dar espaço ao iPhone. Foi uma decisão arriscada e visionária. Mark Zuckerberg também entendeu o jogo, forçou a adaptação do Facebook para o mobile, mesmo quando isso parecia prematuro. Ambos optaram por sangrar cedo, para não sangrar muito depois.
Esses líderes não se moviam por medo. Se moviam por estratégia. Grove chamava isso de confronto construtivo, sustentado por três pilares: enxergar as ameaças antes que cresçam, debater com intensidade e agir mais rápido que os concorrentes.
O sucesso, como Grove alertava, pode ser traiçoeiro. Ele gera conforto. O conforto, por sua vez, gera cegueira. E a cegueira, inevitavelmente, leva ao colapso.
Mas o que vale para empresas também vale para pessoas. Talvez seu ponto de inflexão já tenha começado, e ele não esteja em uma tecnologia ou produto, mas nos relacionamentos que você mantém.
Pode ser doloroso, mas necessário, cortar vínculos que pertencem ao seu passado. Parcerias desgastadas. Amizades que reforçam a versão antiga de quem você foi, e não quem você está se tornando.
Não se trata de ser interesseiro. Trata-se de ser intencional. Networking não é bajulação. Networking é visão de futuro. Se você quer crescer, precisa se cercar de pessoas que já vivem o cenário que você deseja construir.
Ter a coragem de encerrar o que ainda está “funcionando” é, muitas vezes, a única maneira de abrir espaço para o que pode florescer. Porque, no fim, não é a crise que nos derrota. É a acomodação.
*Mário Quirino é especialista em Desenvolvimento Humano e Diretor Executivo do BNI Brasil em Mato Grosso.