Analógico x digital na eleição

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Essa será uma eleição cercada de muita incerteza. Primeiro pelos impactos da pandemia, que reduzirá as atividades políticas de maior contato com os eleitores. Isto tende a favorecer aqueles que já estão melhor posicionados, como os detentores de mandato e quem desfruta de maior popularidade. Por outro lado, o enfrentamento da pandemia do COVID-19 gerou desgaste para quem está no poder, pelas decisões polêmicas tomadas, em particular no tema do isolamento social e na abertura ou fechamento das empresas e seus prejuízos.

Outra grande incerteza é o percentual de renovação, em particular nas câmaras de vereadores e prefeituras. Há, também, o impacto das mídias sociais na campanha e nos resultados. Há quem aposte que 2020 será também uma eleição disruptiva como 2018, para lembrar o título do excelente livro de Juliano Corbelini e Maurício Moura sobre o fenômeno Bolsonaro.

Para acrescentar há ainda a novidade do fim das coligações nas eleições proporcionais, que alcançam apenas os vereadores este ano. Cada partido terá que lançar uma chapa só com seus filiados ou pura na gíria política. Já houve algumas fusões de partidos por conta da aproximação dessa regra, combinada com a cláusula de barreira. A expectativa é que ano que vem ocorra uma nova rodada neste sentido, de olho nos resultados de 2020 e mirando 2022.

Minha aposta é que a renovação de forma geral será baixa. Se pegarmos a Câmara Municipal de Cuiabá como referência deveremos ter um grande percentual dos vereadores que disputarem a reeleição entre os 25 com maior votação. A garantia da vaga dependerá do êxito dos seus respectivos partidos, já que com o elevado número de candidatos será quase impossível alguém atingir o quociente eleitoral sozinho. Este deve ficar em torno de 11.000 a 12.000 votos como na eleição passada.

Na última eleição 21 vereadores se recandidataram, do total de 25. 4 optaram por não disputar a reeleição (Faissal, Leonardo de Oliveira, Domingos Sávio e Haroldo Kuzai). Dos 21 que disputaram, 19 ficaram entre os 25 com melhor votação. Isto gerou um percentual de renovação líquida de quase 90%. E estes dois que ficaram de fora estavam filiados ao PT, no auge do desgaste político no período do impeachment da ex-presidente Dilma, por contas das várias crises e também da Operação Lava Jato. Destes 19, 13 foram reeleitos, por conta de erros na articulação das coligações. Vereadores como Maurélio Ribeiro, Lueci Ramos, Adilson da Levante foram muito bem votados, mas estavam em coligações competitivas. Acabaram não sendo reeleitos e abriram espaços para outros candidatos de menor votação. Mesmo assim, ficamos com um percentual de 61,9% (13 de 21), que ainda é bastante elevado.

E nesta época vínhamos de uma Câmara Municipal que acumulava desgaste e o famoso título de “Casa dos Horrores”. Isso melhorou na atual legislatura, já que não ocorreram escândalos de corrupção e os embates foram reduzidos. Ocorreu apenas uma cassação, do vereador Abílio Brunini, que acabou sendo revertida pelo Poder Judiciário. Isto quer dizer que as chances agora de reeleição são maiores. O número elevado de candidatos e o alto percentual de voto ABN (abstenção, branco e nulo) favorecerá os atuais vereadores. Eles têm os seus respectivos redutos eleitorais, que vêm sendo mantidos com apoio da estrutura dos gabinetes da Câmara Municipal, com os cargos comissionados lá e na Prefeitura e com a verba indenizatória. Eles também vêm utilizando essa retaguarda para trabalhar as mídias sociais, de olho nessa mudança na preferência do eleitorado.

Portanto, na guerra das máquinas analógicas x digitais, ainda haverá um elevado peso das primeiras. A conferir.

Vinicius de Carvalho é gestor governamental, analista político e professor universitário.

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